A manutenção de talentos é, há anos, um dos principais desafios para líderes e organizações de todo o Brasil, ganhando um lugar especial no debate em setores que são primeiro emprego e têm um grau de exigência alto — escalas 6×1, funcionamento 24/7 e grande exigência física. Estamos falando de setores como o foodservice, o varejo, facilities e, em muitos casos, a manufatura.

Em mercados cada vez mais competitivos, a capacidade de manter bons colaboradores deixou de ser apenas uma vantagem administrativa: tornou-se uma condição básica de sobrevivência.

Entretanto, apesar dos avanços em práticas de gestão de pessoas, a rotatividade continua alta em muitos setores. Campanhas de engajamento, programas de benefícios complexos e planos de carreira intrincados são implementados com a intenção de fortalecer o vínculo entre empresa e funcionário — mas nem sempre geram o impacto esperado.

Talvez porque, em muitos casos, esteja se tentando resolver o problema olhando para o lugar errado.

O que de fato leva um colaborador a permanecer em uma organização?
Quais são os sinais, explícitos ou sutis, que reforçam sua motivação, seu senso de pertencimento e sua decisão de ficar?

Para ilustrar essa reflexão, faça um exercício de imaginação:

Um gênio da lâmpada aparece diante de você e diz:
“Por apenas um aumento de 10 reais no salário dos seus funcionários, eu te garanto menos 20% de turnover.”

Você aceitaria essa troca?

O impacto invisível da rotatividade

Antes de seguir, é importante relembrar que a rotatividade de pessoal representa custo, muito além do óbvio.

Portanto, qualquer intervenção eficaz para reduzir o turnover merece atenção, especialmente se ela for financeiramente viável.

O Enigma dos “10 Reais”

Um aumento de 10 reais no salário? Sendo honesta, é o tipo de quantia que não muda a vida de ninguém. Não vai fazer o colaborador se sentir mais seguro financeiramente e, possivelmente, pode soar como insulto.

Porém, a tecnologia pode mudar isso. Soluções como o pagamento sob demanda, que permite ao trabalhador acessar na hora o salário já conquistado com o seu trabalho, têm mostrado um impacto muito mais potente do que aumentos simbólicos. O custo para a empresa? Muitas vezes, equiparável a esses dez reais. Já o efeito na percepção do colaborador é exponencialmente maior.

Entendendo a percepção de valor: dois princípios psicológicos

O fenômeno pode ser compreendido a partir de duas referências fundamentais:

  1. Desconto Temporal (Temporal Discounting)

Segundo a economia comportamental, pessoas atribuem mais valor a recompensas disponíveis no presente do que a recompensas futuras, mesmo que estas sejam monetariamente superiores.

O acesso imediato ao salário já trabalhado gera uma percepção de ganho real e concreto, muito superior a um acréscimo pequeno e postergado ao final do mês.

  1. Teoria da Autodeterminação (Self-Determination Theory)

A autonomia é uma necessidade psicológica básica. Quando um trabalhador pode decidir quando acessar sua remuneração, sua sensação de controle e autodeterminação se fortalece, o que está diretamente associado a maiores níveis de satisfação, motivação e intenção de permanência na empresa.

Portanto, não se trata apenas de dinheiro, trata-se de respeitar as necessidades humanas fundamentais.

Evidências práticas

Empresas que implementaram este tipo de incentivo reportam:

Esses resultados foram alcançados sem grandes aumentos de custo, apenas ajustando a forma como a empresa se relaciona com o que é o ativo mais valioso: o tempo e o esforço dos seus colaboradores.

Uma reflexão final

Talvez a verdadeira pergunta não seja se você aceitaria a proposta de um gênio da lâmpada.

A pergunta é:
Você está disposto a repensar a maneira como valoriza o esforço dos seus colaboradores, aproveitando os recursos que a tecnologia e a ciência comportamental já colocam à nossa disposição?

Referências:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *